quinta-feira, 14 de junho de 2007

Pais, filhos e peixes - 2ª e última parte

Gabriel quis perguntar quanto custava o peixe mais barato, mas para que? Mal tinha conseguido jantar na última noite. Sabia que não teria dinheiro para comprar o presente.

Valdemar sabia, pelo olhar daquele homem que ele não compraria nada muito caro e como estava pra fechar a loja, tratou logo de despacha-lo.

- Senhor, sinto muito, mas tenho que fechar a loja. O senhor deseja alguma coisa???

- Não... Só estava olhando os peixinhos... - Sua voz parecia a de uma criança que sabe que não vai ter festa no seu aniversário.

Faltava poucas horas e, Rubens só tinha uma preocupação:

- A Fernanda vem? - Perguntou a um amigo pelo telefone.

- !? Liga pra ela e pergunta..

Era o que queria fazer, mas ele não era bobo. No auge dos seus quase quinze anos, sabia que não poderia ligar jamais. Tudo fazia parte do "joguinho amoroso". E ele sabia jogar.

Enquanto Valdemar apagava as luzes e fechava a loja, Calvin provavelmente questionava-se o porque daquela escuridão repentina. Provavelmente, pois ele nasceu peixe.

Sem-nome ficaria cuidando da loja.

Sete e meia do noite de sábado. Um homem rondava o "pet shop". Seu nome era Gabriel Reis, 42 anos, desempregado e com fome. Sua mais nova profissão: Assaltante.

Não queria muito dinheiro, apenas queria um peixe para dar ao seu filho. O resto seria usado para alguns itens de máxima prioridade: cigarros e um bom whisky.

Depois de 20 minutos rondando a loja percebeu duas coisas: a primeira que tinha uma porta nos fundos e a segunda, pelos rosnados, estava muito bem guardada.

O mais novo assaltante do bairro, elaborou um audacioso plano: atrair o cachorro para a frente da loja e entrar pelos fundo. Um belo plano.

Dito e feito. Atraiu sem nome para a entrada e adentrou a local. Com muita cautela jogou um pedaço de bife para Sem-nome. Era o seu jantar, mas não importava mais. Teria um presente para seu filho e uns trocados para comer enquanto não arrumava emprego.

O pastor-alemão saboreava a primeira refeição da semana. Valdemar sempre alimentou muito bem seu cão, mas há duas semanas um amigo lhe disse que isto não estava certo. Cachorro bem alimentado não serve para guarda. Quanto mais fome, mais bravo ele ficaria e, pegaria qualquer sujeito que fizesse o que Gabriel estava fazendo.

Os amigos de Rubens começam a chegar. Com convidados, a festa já pode começar.

Calvin não fecha os olhos para dormir. Ele nasceu peixe.

Gabriel, depois de pegar o dinheiro. Um montante maior do que esperava. Estava na hora de pegar o peixe. Não há dúvida: Para que tudo que você leu aqui faça um mínimo de sentido, ele escolheu Calvin.

Ouve um barulho. Não vê nada.

Meio segundo, para se virar. Tempo demais.

A dor da mordida é muito forte. Sabe que não deve gritar. -

- O bife parecia tão grande... - pensou.

Gritou.

Calvin e mais 20 peixes caíram no chão.

Rubens está preste a cortar seu bolo. Sua mãe, como todo ano, diz que ele deve fazer um pedido.
Ele pensa, por um segundo no pai. Já fazia tempo que não o via.

- Queria ver meu pai hoje. - foi o que pensou em pedir.

De repente seus olho encontram quem ele tanto desejava. Tinha acabado de chega.

- Quero que ela goste de mim, como eu gosto dela. - foi o que pediu.

O assaltante foi preso. O cachorro seria recompensado.

Calvin até tentou respirar, foi em vão. Ele nasceu peixe.


FIM

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