segunda-feira, 4 de maio de 2009

Making of "A amiúde iniqüidade lancinante do asco por ti"

ATENÇÃO!!! LEIA O “MAKING OF” ANTES DO CONTO POR SUA CONTA E RISCO. VOCÊ FOI AVISADO!

O título já existia, acredito eu, a pouco mais de um ano. Esse conto fecha um ciclo de cinco contos que me propus a escrever nessa época. Demorou, mas finalmente conclui.

O texto foi escrito em pouco menos de 30 minutos em uma mesa pouco sucinta à ideias e, finalizado poucos dias depois.
Foi bom escrever algo simples. Principalmente depois de coisas confusas e complexas por demais. Um conto sem muitas pretensões. Tentei explorar o asco, não de todos os jeitos possíveis, mas no que me cabia.
O final apenas se limita a por um fim na escrita, não na história. Na verdade, acho que não se trata de uma história e sim de um fragmento.

Algo assaz agradável de escrever.

Obrigado a quem lê.

A amiúde iniquidade lancinante do asco por ti

Assim que se passaram as primeiras juras de amor, compreendeu que não iria ser até a morte. Muita coisa tinha mudado. Ela inclusive. De discussões passageiras que terminavam na cama, até as mais sérias, que terminavam em tapas. Tudo a inclinava à separação definitiva. De todas as suas dúvidas, as relacionadas ao amor eram que mais lhe afligia.

De tempos em tempos ele tentava reconquistá-la. De tempos em tempos ela cedia. O fogo da paixão a suscitava à inúmeras recaídas. Para o bem e para o mal, tudo nele a provocava.

Amiúde sentira asco. Não tão forte, como possam imaginar. Raramente vomitava. O cheiro, antes de homem viril, sexo alucinante; agora apresentava uma exaltação de sentidos ruins.

O escárnio lancinante criava feridas. Vítima impune anunciou o perverso inquisidor. Nunca fora afetada pela luxuria. Ele sim. Sabia disso. Sempre soube.

A iniquidade exalava de seus poros. Um vento suave amenizava as expressões do seu rosto. Uma ternura severa apropriava-se das suas feições. Algo arriscado para um homem da sua estirpe. Algo novo e inusitado no seu mundo de jogos, trapaças e canos fumegantes.

Cheirava a cigarro desde que começara o seu novo emprego. Ela nunca soube ao certo o que fazia. Dizia ele ser importante. Agia como se fosse.

O asco transbordava seu corpo pueril de mulher. Não pensava em coisas boas. Somente coisas terríveis surgiam em sua mente, antes mesmo de se dar conta dessa manifestação de pensamentos demoníacos. O amor, já partido, lhe ensinara muitas coisas, mas aprendeu mais com o ódio. Já quis matá-lo, porém nunca rompeu a barreira da vontade.

Quem sabe um dia o mate, ou se desapegue, se pegue a algum subterfúgio do seu instinto feminino. Talvez o faça mesmo sem querer. Por iniciativas alheias a sua vontade. Tudo sempre foi inesperado para ela. Pode não acontecer, pode esquecer, pode até morrer antes de ir a forra. Não significa que nunca vivenciou. Que nunca sentiu. Que nunca chorou. Está na hora.

Ela morta ou viva, ele vivo ou morto. De todo jeito, o asco será sempre maior.