quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Menina dos olhos abandonada

Júlia atravessou a rua correndo, não olhou para os lados, não se importava com quem vinha. Se fosse carro, moto ou caminhão.
Quase foi atropelada. Mas o motorista conseguiu frear a tempo.

Não se importava com mais nada. Tudo tinha acabado. Romeu gostava de outra.

Tudo o que tinham passado, tudo o que viveram... Estava tudo terminado. Queria sumir, queria morrer. Tinha raiva, muita raiva. Desejou que ele morresse.

Arrependeu-se.

Nunca tinha sentido tamanha dor. Lembrava como tudo começou.

Eles faziam aula de grafite juntos.
Logo ela começou a notar que ele brincava de um jeito diferente com ela, que aproveitava cada desculpa idiota pra abraçá-la. Que falava coisas sobre segredos, perguntava coisas que ela não sabia responder.
Para Júlia aquilo era apenas o inicio de uma grande amizade, não que não passasse pela sua cabeça que Romeu estivesse interessado, mas evitava pensar nisso. Já tinha sofrido num passado recente e não queria que isso acontecesse de novo. Tinha decidido que nunca mais se entregaria a sentimento nenhum. Que nunca mais se apaixonaria.
Porém ela bem sabia que "nunca" é muito tempo. "Nunca" é tempo demais.

No começo a amizade era o tempero desse casal. Pelo menos era o que Júlia pensava. Adorava passar seus dias com Romeu. Adorava o jeito que ele a fazia sorrir. Adorava ajudá-lo, mesmo que fosse dando conselhos amorosos, ou abrançando pra aquece-lo no frio.

Começou a notar que queria ficar à seu lado mais do que de seus outros amigos. E sentia que isso era recíproco.

Parece que Romeu também notou isso.

Foi numa tarde de inverno, no parque. Estava frio e ventava muito. Ele a abraçou. Ficaram lá os dois, no calor daquele abraço. Em silêncio. Romeu tentou beijá-la, ela suavemente afastou a cabeça. Ele ficou desapontado. Logo depois ficou surpreso: Júlia o beijou.

Poucos encontros depois, eles já estavam namorando.

Ia tudo muito bem até ela notar que Romeu estava diferente. Na verdade desde que começou o curso avançado de grafite; curso o qual Júlia não pode continuar, pois estava trabalhando nesse horário; notou que ele tinha mudado.

Estava distante. Não a abraçava, nem a beijava do mesmo modo. Até começou a se vestir diferente. Não mais o reconhecia.

Quando estava no trabalho, na hora do almoço, enquanto mexia no celular, percebeu que Romeu tinha lhe enviado uma mensagem. Nela ele dizia que precisava ter uma conversa séria.
Não conseguiu mais trabalhar depois disso.

Ao chegar em casa e encontrá-lo, não resistiu: Abraço-o e começou a chorar.

Romeu também sofria. Foi difícil, mas ele sabia que devia isso a ela.

- Estou apaixonado. Eu não queria. Ela não queria. Aconteceu.

Afastou-se de Júlia e saiu.

Júlia ficou chorando no chão. Depois leventou-se e, saiu correndo atrás dele.

Atravessou a rua correndo, não olhou para os lados, não se importava com quem vinha. Se fosse carro, moto ou caminhão. Quase foi atropelada. Mas o motorista conseguiu frear a tempo.

Conseguiu alcançar Romeu. Gritou seu nome. Ele parou, e virou.

Júlia ficou olhando. Era como se tentasse traduzir em palavras o que estava sentindo.

Não conseguiu.

Romeu continuou andando.

Júlia continuou calada.


FIM


Em breve!

Making of "Menina dos olhos abandonada"
Os bastidores da história mais brega que já surgiu neste blog!

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Quando ando, não sinto meus pés no chão, pode ser que seja por causa da bebida, mas pode ser que seja por causa da exaustão... Provavelmente os dois.