quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

_o eterno não dá


Eu adiei escrever sobre o tema, como se fosse adiar falar sobre isso que assola eternamente a minha vida, e assim, tentei esconder a poeira pra debaixo do tapete. Por que fui escolher escrever sobre isso, bem agora? Mas não poderia trocar mesmo, e resolvi aos 45 do segundo tempo, encarar os demônios e falar sobre: "o eterno não dá".

Eu que já nem tenho mais tempo, e ânimo, para os nãos da minha vida, resolvi de uma vez por todas deixar de lado o "depois", e me abrir pro "agora". É a única coisa que eu tenho, e vivê-lo de uma vez pode me fazer feliz por instantes, que sejam, e que não vão durar, pois, como ouvi outro dia, "todos os momentos passam, sejam eles bons ou ruins".

É que eu sempre gostei de adiar as coisas, boas e ruins. Tanto a dor quanto a felicidade me são muito caras, e a procrastinação virou um hábito. É o preço a se pagar quando você nega demais quando a felicidade bate à sua porta: se é você quem a procura, dá com a cara nela, a porta, várias vezes. Eu já me acostumei aos arranhões e aos roxos, e quando adoeço de tanto tentar, nem me surpreendo. É leve três, pague dois, e no meu caso, leve dois, pague três.

O "eterno não dá", em mim, já são favas contadas, é o mínimo a se esperar. Eu tenho vivido, agora, pelo outro lado, pelo outro lado da ponte, pelo outro lado da vida, pela posssibilidade de um sim, ou pelo menos um talvez. Um meio do caminho, que valha um encontro. "Eterno" e "não dá", já me são tão díspares, tão contraditórios, que eu não acredito mais neles.

(Isso são palavras de alguém que já esteve muito neste assunto, já o sabe de cor, e se cansou um pouco desse vai- e-volta. E está voltando para algum lugar, que não sabe ainda qual é, mas se o encontrar, que seja bem- vindo.)

era (e é) como se eu estivesse a dois centímetros de distância gritando, tentando alcançá-lo, dizendo, "estou aqui, a vida é uma merda, mas você não tá sozinho" e não me via, eu sou a mulher invisível, eu não sou, eu sou a porra de um nada, porque não existe efeito colateral nenhum, eu não tenho nenhuma reação sobre você, boa ou ruim, EU SOU UM PLACEBO que não tem nem o efeito psicológico.


Carol Ferraresi

+ em euquemserá


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Este texto faz parte de um projeto que consiste em trocar um título com alguém e essa pessoa tem que escrever algo utilizando o meu título e vice-versa.

Aqui está o texto da Carol. O título foi escolhido por mim. Ele foi livremente retirado da música "Janta" do Marcelo Camelo. Livremente retirado porque a música diz: "Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá" e eu sempre entendi "o eterno não dá". Engraçado como essa confusão acabou gerando um texto muito interessante.

Ele foi escrito, se não me falha a memória, em meados de Agosto. Lembro que entreguei uma pequena lista com uns seis ou sete títulos para ela escolher e ela escolheu justamente este. Depois de ler fica claro o porquê.

Gostei muito do texto. Foi para mim um grata surpresa. No fim fica a dúvida: Quantos de nós não seriamos simples placebos?

Obrigado pelo texto Carol!


E esperem mais "troca-troca", no melhor sentido da expressão.

PS.: O texto com o título que a ela escolheu: nós. aos olhos dos outros


sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Florescer


As folhas secam no Outono, pelo simples fato de morrerem, perderem sua essência de vida. Ao contrario do que se possa imaginar, é algo extraordinário, um momento sublimemente lindo, que começa no último estalo do caule da folha seca se desprendendo do restante do vegetal até o momento em que pousa no chão. Fica ainda mais belo quando plana deitada no vento antes de encontrar lençóis de terra ou água, mesmo que se perca nas rachaduras das pedras urbanas, apenas pelo fato de voar. A sensação de liberdade é única, liberta até mesmo da folha verde ou de qual quer outra cor que em algum tempo fora e do futuro passo que irá quebrá-la em pedaços decompostos. Morte, fato. Tristeza, momento. Saudade, sensação. Todo restante é de mesmo valor, não há morte ou tristeza, nem mesmo saudade, apenas mais uma folha que se vai para o campo etéreo.


Felipe Menezes

domingo, 15 de novembro de 2009

A significância do caos

Do caos vem à luz
Do cimento vem ao chão
A marca do concreto
O sucesso do conceito
Tudo é áspero
Um tanto incerto
Nuvens redondas são o teto 
Paredes de papelão 
Siga em frente
A ocasião pede uma retomada 
Vamos ao centro
Seja o que sobrar
Seja a luz e o caos
Seja o final
Seja o que ficar

 
O mundo é feito de coisas precisas. Algumas preciosas e outras não. Preciso ser mais específico.
Divagações inúteis são necessárias. Elas despertam a consciência de seres humanos preocupados em encontrar algo que não sabem ao certo o que é. A significância do caos. No fundo é tudo o que nos resta. 
No princípio é tudo pela lógica. Então, em certos momentos, os algarismos são deixados de lado em prol de sentimentos nem sempre claros.
A definição de causalidade pode ser observada pela sequência ilógica de fatos corriqueiros acontecendo em um certo intervalo de tempo e sem uma sequência pré-definida. Essa seria a extinção do homem. Não sobreviveríamos à rotinas racionais. 
No principio tudo era o caos. E dele fez-se a luz.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Making of "nós. aos olhos dos outros"

ATENÇÃO!!! LEIA O “MAKING OF” ANTES DO CONTO POR SUA CONTA E RISCO. VOCÊ FOI AVISADO!

Certamente esse foi o conto mais difícil de surgir. Ele faz parte de um projeto que consiste em trocar um título com alguém e essa pessoa tem que escrever algo utilizando o meu título e vice-versa. A minha primeira escolha foi minha amiga Carol. Foi ela que me apresentou esse título: “nós. aos olhos dos outros”. A principio não me pareceu complicado. Na verdade, parecia algo fácil de escrever. Parecia. A maior dificuldade começou com a decisão de que seria um conto e não falaria de mim, teria um personagem com nome e características próprias. Claro que o Marcelo tem muito de mim, mas ele tem mais das minhas experiências e compreensões do mundo e das pessoas.
O texto foi tomando uma estrutura curiosa. O personagem nos é apresentado por um narrador com opiniao própria, em tom didático - isso explica a exagerada repertição do nome da personagem. Enquanto escrevia, parecia que estava ouvindo aqueles vídeos que a gente têm que assitir antes de tirar a carteira de motorista, o que serviu bem ao tom irônico do texto. Isso me ajudou a ter um distanciamento do conflito, se é que ele é passado no texto. Deveria.
Como na maioria dos meus textos, à primeira vista não o aprecio. Mas essa é só a primeira impressão. Será que fica?

Obrigado à quem leu (e a quem não leu, mas está lendo isso).


Em breve - se ela deixar - o texto da Carol:
o eterno não dá!

nós. aos olhos dos outros

Seres humanos geralmente são cheios de manias, trejeito e peculiaridades únicas. O que, de modo geral, contribuem para o enriquecimento da nossa flora global. A essência de cada um não é fácil de ser compreendida.

Marcelo é um típico ser humano. Desses que não são notados na fila do cinema ou na primeira semana de qualquer coisa. Marcelo tem certamente diversas peculiaridades que só existem porque Marcelo é um ser diferente dos outros. O que nos leva a questão principal: Quantas pessoas realmente conhecem Marcelo?

Marcelo tem medo. Medo do que acharão, de não ser aceito. Medo de não se enquadrar. Medo de sempre se sentir excluído. Que relação Marcelo tem em relação ao todo? Quais sensações provoca nos outros? Quantas discussões, briga, guerras são evitadas por sua presença?

A intensidade do agir depende do preciso momento.

Muitos não entenderão. Sentirão medo, reservas, raiva do não compreendido. Então é chegada a hora da crucificação. Mas nem tudo é tão certo assim. A vida é ligeiramente mais complexa do que simples palavras.

Em uma realidade alternativa, Marcelo é respeitado, aprovado, santificado. Não conhece as pessoas. Não quer conhecer. Marcelo não perde seu tempo analisando. Não há tempo. A filtragem acontece já nas apresentações iniciais. Às vezes um simples olhar basta para conhecer alguém. A primeira impressão é a que vale, é a que fica.

Não fica mais sozinho. Contudo, entretanto, porém e - outros sinônimos - sente-se só. Já sentiu que deveria mudar, tentar se enquadrar. Quem sabe fazer um esforço, usar aquela roupa bacana - "bacana" é um termo muito usado por Marcelo -, ler livros grande com títulos inteligentes, ou então fazer graça. Essa última sempre funciona. Pena que Marcelo não foi agraciado com um humor sofisticado tão em voga nos dias de hoje.

Marcelo é anacrônico. Uma definição bastante precisa na sua própria opinião própria. Será tão própria assim? Própria mesmo? Própria dele ou própria deles?

A propósito: A propriedade de ser um ser aceito das diferentes formas choca-se de maneira violenta com a propriedade de ser um ser pensante. Uma manifestação de confiança exacerbada, dirão alguns.

Marcelo irrita as pessoas. Alguns o consideram calado e tímido; outros afirmam que além de falar pelos cotovelos, tem um ar exibicionista capaz de tirar qualquer um do sério.

Marcelo tenta agradar a todos. Sua definição de agradar é bem própria dele. Alguma coisa deveria ser, não?

Marcelo é um típico ser humano.

domingo, 19 de julho de 2009

uma meretriz versada em poesia


Gostaria, ó gentil cavalheiro
Apropriar-se de minha carne?
Em troca de módica quantia
Não peço muito, mas o que me cabe
Quantia essa que serviria ao meu sustento
Mas se não concordar entendo
No entanto prometo-lhe fazer tudo o que me pede
E se não quiser pagar o preço todo
Que fique apenas com o boquete.

sábado, 27 de junho de 2009

A despedida salutar de um coração em chamas

Desde do início já sabia como seria o fim. Não que tenha sido algo simples, apenas previsto. Logo soube que não foi por acaso.
Muito se esperava de mim. Todas elas esperavam. Cada uma do seu jeito. Umas mais fogo, outras mais água. Todas mulheres fantásticas.

Sinto alguma saudade agora. O difícil é resumir tudo em pequenos instantes. Sei que ainda é prematuro falar sobre todas. Gostaria de esperar, mas não tenho mais tempo. Sinto-me tão cansado.
Gostaria de dedicar várias páginas para cada uma, mas assim, tudo junto, me parece mais justo, mais conciso, mais eu.

Despedindo-me repentinamente, consegui buscar a verdade. Tudo que ela me passava era uma chama sem fim, algo perigoso e certamente não muito sadio. Não que isso me preocupasse tanto, gostava do risco. A paixão arrebatadora que me despertava chegava a doer, tamanha a sua crueldade para comigo. Seu corpo era o próprio pecado; sua cor, a indecência. Tudo que se revestia nela tinha um tom de maldade. Não pude resisti, quem poderia?

Já a água era diferente. Não melhor, apenas diferente. Ela tinha uma ternura toda sua, uma melancolia gostosa de se ver, uma indecisão no olhar que me fazia observá-la por infinitas horas. Seu calor não queimava, acalentava. Junto com seus abraços.
Suas sobrancelhas se mexiam quando comia morangos. Adorava morangos. Gostava de me escrever cartas. Longas cartas marcadas com sua assinatura de mulher decidida dentro das suas inconstâncias. Seus afagos eram demorados. Sentia algo bom. Algo doce, no canto da boca, seus beijos sem pressa.
Lembro-me vagamente que gostava de animais e crianças. Queria ter uma dúzia de cada. Com sorte seria comigo. Quem não se apaixonaria por alguém assim?

Foi nesse preciso momento que eu conheci a terra. Alguém que te absorve, que te traga sem te dar chance alguma de defesa. O método da conquista foi certeiro, envolvente como só ela. Uma floresta sem subterfúgios para escapar. A metódica feminista denunciava um controle absoluto dentro dos seus instintos, coisa própria do seu sexo. Um caminhar inusitado pairava sobre as corridas da sala até os meus braços. Me segurava com firmeza. Tinha uma decisão no olhar. Belos olhos aqueles. Experimentei, certa vez, olhá-la fixamente por determinado tempo. Foi quase um desafio a sua segurança. Óbvio. Ela venceu. E foi nesse momento que eu cai em mim. Ela me ganhou sem muito esforço.
Quem não se deixaria envolver?

Fiz essa pergunta a mim mesmo uma centena de vezes. Tolo fui em supor que poderia responder sozinho, sem a ajuda dela. Aquela que só eu sei o que levou. Ar. Leve com só ela. Da onde veio, eu nunca vou saber. Quando percebi, ela já estava do meu lado e eu... bom, eu não queria estar em outro lugar. A lua refletida no seu rosto, enquanto declamava as palavras mais belas. Seus lábios eram volumosos e sua testa franzia sempre que se punha a discutir política. Tinha uma predileção natural por romances, não qualquer romance, apenas os bem escritos. Aqueles mais quistos por pessoas ligadas à lógica. Sua amizade valeu-me alguns anos de consultas ao dicionário. Tudo pra entender quem não tinha nenhuma pretensão de ser compreendida. Suas palavras na época.
Quem não se deixaria levar?

A previsão que mencionei a principio não me surpreendeu. Não que fosse cético, apenas incrédulo, talvez pela imunidade que tinha até então ao amor. Logo supus que não tardaria a acontecer. Cometeria muitos erros e alguns acertos até encontrar. Certas mulheres encontramos do jeito certo, outras necessitam da tolice pura que todo homem traz consigo desde do berço.

Machos alfas têm essa necessidade absoluta do amor. O que diversas vezes é confundida com conquista, caçada, ou arrebatamentos pueris. Não. Isso não passa da necessidade psíquico somática do feminismo de uma mulher, do seu seio macio, da sua boca perfumada e, principalmente, dos seus carinhos precisos. Algo de pouca, ou nenhuma lógica. Tudo proveniente do desamparo angustiante dos dias modernos, que surgem mais agressivos a cada dia desde da eternidade em que nasceu o homem. Simples assim.

Foi assim, como você acabou de ler, nesta sequência exata, nesta precisa narrativa cheia de detalhes, onde cada palavra tem a sua significância restrita para o entendimento do todo; foi assim que sucedeu a minha vida. Uns a consideraram breve, eu a achei suficiente. Não havia muito mais a viver. Desde do início já sabia como seria o fim.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Making of "A amiúde iniqüidade lancinante do asco por ti"

ATENÇÃO!!! LEIA O “MAKING OF” ANTES DO CONTO POR SUA CONTA E RISCO. VOCÊ FOI AVISADO!

O título já existia, acredito eu, a pouco mais de um ano. Esse conto fecha um ciclo de cinco contos que me propus a escrever nessa época. Demorou, mas finalmente conclui.

O texto foi escrito em pouco menos de 30 minutos em uma mesa pouco sucinta à ideias e, finalizado poucos dias depois.
Foi bom escrever algo simples. Principalmente depois de coisas confusas e complexas por demais. Um conto sem muitas pretensões. Tentei explorar o asco, não de todos os jeitos possíveis, mas no que me cabia.
O final apenas se limita a por um fim na escrita, não na história. Na verdade, acho que não se trata de uma história e sim de um fragmento.

Algo assaz agradável de escrever.

Obrigado a quem lê.

A amiúde iniquidade lancinante do asco por ti

Assim que se passaram as primeiras juras de amor, compreendeu que não iria ser até a morte. Muita coisa tinha mudado. Ela inclusive. De discussões passageiras que terminavam na cama, até as mais sérias, que terminavam em tapas. Tudo a inclinava à separação definitiva. De todas as suas dúvidas, as relacionadas ao amor eram que mais lhe afligia.

De tempos em tempos ele tentava reconquistá-la. De tempos em tempos ela cedia. O fogo da paixão a suscitava à inúmeras recaídas. Para o bem e para o mal, tudo nele a provocava.

Amiúde sentira asco. Não tão forte, como possam imaginar. Raramente vomitava. O cheiro, antes de homem viril, sexo alucinante; agora apresentava uma exaltação de sentidos ruins.

O escárnio lancinante criava feridas. Vítima impune anunciou o perverso inquisidor. Nunca fora afetada pela luxuria. Ele sim. Sabia disso. Sempre soube.

A iniquidade exalava de seus poros. Um vento suave amenizava as expressões do seu rosto. Uma ternura severa apropriava-se das suas feições. Algo arriscado para um homem da sua estirpe. Algo novo e inusitado no seu mundo de jogos, trapaças e canos fumegantes.

Cheirava a cigarro desde que começara o seu novo emprego. Ela nunca soube ao certo o que fazia. Dizia ele ser importante. Agia como se fosse.

O asco transbordava seu corpo pueril de mulher. Não pensava em coisas boas. Somente coisas terríveis surgiam em sua mente, antes mesmo de se dar conta dessa manifestação de pensamentos demoníacos. O amor, já partido, lhe ensinara muitas coisas, mas aprendeu mais com o ódio. Já quis matá-lo, porém nunca rompeu a barreira da vontade.

Quem sabe um dia o mate, ou se desapegue, se pegue a algum subterfúgio do seu instinto feminino. Talvez o faça mesmo sem querer. Por iniciativas alheias a sua vontade. Tudo sempre foi inesperado para ela. Pode não acontecer, pode esquecer, pode até morrer antes de ir a forra. Não significa que nunca vivenciou. Que nunca sentiu. Que nunca chorou. Está na hora.

Ela morta ou viva, ele vivo ou morto. De todo jeito, o asco será sempre maior.

terça-feira, 7 de abril de 2009

_____________ Talento ____________




"Todas as pessoas são capazes de atuar no palco. Todas as pessoas são capazes de improvisar. As pessoas que desejarem são capazes de jogar e aprender a ter valor no palco. Aprendemos através da experiência, e ninguém ensina nada a ninguém. Isto é válido tanto para a criança que se movimenta inicialmente chutando o ar, engatinhando e depois andando, como para o cientista como suas equações. Se o ambiente permitir, pode-se aprender qualquer coisa, e se o indivíduo permitir, o ambiente lhe ensinará tudo o que ele tem para ensinar. Talento ou falta de talento tem muito pouco a ver com isso. Devemos reconsiderar o que significa talento. É muito possível que o que é chamado comportamento talentoso seja simplesmente uma maior capacidade individual para experienciar. Deste ponto de vista, é no aumento da capacidade individual para exerienciar que a infinita potencialidade de uma personalidade pode ser evocada.

Experimentar é penetrar no ambiente, é envolver-se total e organicamente com ele. Isto significa envolvimento em todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo. Dos três o intuitivo, que é o mais vital para a situação de aprendizagem, e negligenciado. A intuição é sempre tida como sendo uma dotação ou uma força mística possuída pelos privilegiados somente. No entanto, todos nós tivemos momentos em que a resposta certa simplesmente surgiu do nada ou fizemos a coisa certa sem pensar. As vezes em momentos como este, precipitados por uma crise, perigo ou choque, a pessoa normal transcende os limites daquilo que é familiar, corajosamente entra na área do desconhecido e libera por alguns minutos o gênio que tem dentro de si."


Viola Spolin
Improvisação para o teatro (1979)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Vestuto Alento


Vênia à ti.

Vivo a vida na ilusão de que você possa ser mais importante que eu.
Por mim, sei que não deveria.
Você é.
Mas de que vale ser?

Seria algo leviano tentar escrever algo assim?

O tentar pode cansar.
O erro insiste em acontecer.
O tempo, ou a falta de, nos torna impossíveis.
Um para o outro apenas. Não para o mundo.

No início era um infinito, cheio de possibilidades.
Hoje parece que vai começar de novo.
O que não é mal ou ruim apenas impreciso.

Esperar?
Morreria por esperar.
Mas esperaria mesmo assim.

Faria de novo.
Faria diferente, porém não esqueceria as lições não aprendidas ainda.

Espera!

Mais tarde ainda será cedo para conversarmos.

A saudade não vai embora.
Você não fica. Fica.

Fica! Presta atenção...

Moça, por favor, cuida bem de mim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Making of "O ser vil que serviu"

ATENÇÃO!!! LEIA O “MAKING OF” ANTES DO CONTO POR SUA CONTA E RISCO. VOCÊ FOI AVISADO!

Primeiro veio o título, para só depois surgir o conto.

Como a tempos não atualizava esse blog, forcei-me a sentar na frente do computador e escrever algo. Primeiro vamos ao título: ele surgiu da música/poesia "Amadurecência" do Teatro Mágico. Na ocasião pensei como seria um vilão sendo útil a alguém. Ficou bem diferente disso.

A maior inspiração para esse conto foi a obra "Dom Casmurro" de Machado de Assis, que foi reavivada na minha mente graças à série "Capitu". Logo soube que o meu "vilão" se chamaria Escobar. Bentinho, então, foi uma escolha natural, apesar de óbvia.

O narrador como personagem presente na ação, surgiu enquanto o conto era escrito. Pensei em uma grande e bombástica revelação: seria Capitu. Mas não segui em frente com a idéia. Seria "forçar a barra", conclui.

A falta de clareza do texto foi proposital. Queria algo misterioso, rápido e sucinto. Onde o leitor não tivesse clareza da ação. Tudo "atropelado", sem muita explicação.

O final surgiu totalmente improvisado. O conto em si não me agradou. Talvez porque não tenha conseguido criar algo realmente novo. Ele segue tanto linha, como extrutura bem típicas minha. Apesar de ter gostado do final, que me surpreendeu. Espero que possa ser entendido por eventuais leitores. É quase uma história sem fim. Um ciclo-vicioso.


Obrigado, enventual leitor.

O ser vil que serviu

Escobar caminha pelo salão gélido e escuro. Não há nada na sua frente, a não ser um antigo espelho fosco. Suas mãos suadas e trêmulas movem-se com a intensidade do vento. Em sua mente tudo está claro. Seu objetivo, um propósito maior e, sua arma.

O desejo quase o consome antes do movimento preciso. Controla. O fator-movimento acontece. Barulho! Formas geométricas imperfeitas caem ao chão. Reflexos: é Bentinho. Como era conhecido Bento Santiago. Ele sangra. Um sangue viscoso e vermelho. Nada diferente de outros que já vi. Em seus olhos, o desespero. A vida se esvaindo. A chama se apagando. Imagino tudo escurecendo.

Escobar corre em minha direção. Passa reto por mim, muda o trajeto. Tudo me faz crer que não me viu. Permanece vários instantes parado. Observando sua presa ferida mortalmente. Em seus olhos o rancor e a raiva, se transformaram em algo obscuro. Talvez ternura, talvez remorso, talvez culpa. Sem dúvida algo mais nobre do que sentira no momento anterior.

Aproxima. Ajoelha. Pega-o em seus braços.
Quase posso ouvir-lo. Quase. Me parece um pedido de perdão, mas posso ter me enganado. A respiração forte de Bentinho atrapalhava o caminho das palavras. Tudo me era confuso.

Bento sangrava toda roupa de seu algoz. Era tanto sangue. Tão vermelho. Tanto sangue. A sala estava impregnada daquele cheiro vermelho. Aquela cena, por algum motivo, lembrou-me morangos.

Foi um pensamento esdrúxulo, admito. Inusitado, quem sabe.

A violência cessara. A vítima balbuciou algumas poucas palavras ao ouvido de Escobar. Nada compreensível. Acho que era alemão.

D
esfaleceu. Sua respiração, de repente, silenciou. Tudo era o silêncio, que estava em tudo.

Aqui jás Bento Santiago. Morto em sua sala sem muita honra”. Daria um belo epitáfio, pensei.

Sua morte serviu a um propósito maior. Foi o que ouvi semanas depois do ocorrido.

Escobar não permaneceu vivo por muito tempo. Foi apenas o tempo de servir também ao tal propósito maior: "a salvação de nossas almas". Foi o que me disse, em meus braços, antes de morrer.

Um ato desnecessário, decerto. Eu o matei.

Agora é esperar...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O prazo certo

_chegou em casa mais cedo esperando por um consolo que nunca obteve
ela só queria saber o porquê de certas coisas incertas
ela só queria desvendar o que a afligia
chocou-se e se perdeu diante do sentido
encheu-se de alegria ao saber que não era a única.
Foi chegando devagar do meu lado.
do lado de lá.
encostou.
Tramitou no ar corrente das informações perdidas
Correu perigo naquele asfalto macio
o prazo certo pra sair daqui
acabou.
e incerta de tantas certezas
Precipitou-se pelo chamado do provérbio
que descansava no eterno limbo de acrílico
A refração inconstante daqueles que não nos veem
O casco, o saco e a miscigenação.
Juntou-se à eles.
Cada sabor, uma nova dor
Explicitou-me por infundadas palavras
de cor.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A campainha que não toca

Leio muito.
Às vezes acho que mais do que deveria.
Não que o hábito de ler seja uma coisa ruim. Mas não se pode comparar o contato humano com o prazer solitário de um livro aberto a sua frente.
Tudo bem... você pode rir com um livro. Chorar. Ficar com medo ou assustado apenas com palavras e divagações de uma pessoa que você nunca viu de perto e nem sabe se aquilo que escreve e vende é realmente aquilo que se passa em seu coração.
Agora pense bem antes de responder... e com as pessoas... é assim?
Tem certeza?
Que conhece muito bem cada pessoa que convive com você? Que você sabe o que se passa em suas mentes e coração?
Acho que ninguém sabe...
E deveria?
Também não sei...
Não sei de muita coisa.
Talvez por isso eu leia tanto...

Kelly Guimarães

fotolog da Kelly