quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

_o eterno não dá


Eu adiei escrever sobre o tema, como se fosse adiar falar sobre isso que assola eternamente a minha vida, e assim, tentei esconder a poeira pra debaixo do tapete. Por que fui escolher escrever sobre isso, bem agora? Mas não poderia trocar mesmo, e resolvi aos 45 do segundo tempo, encarar os demônios e falar sobre: "o eterno não dá".

Eu que já nem tenho mais tempo, e ânimo, para os nãos da minha vida, resolvi de uma vez por todas deixar de lado o "depois", e me abrir pro "agora". É a única coisa que eu tenho, e vivê-lo de uma vez pode me fazer feliz por instantes, que sejam, e que não vão durar, pois, como ouvi outro dia, "todos os momentos passam, sejam eles bons ou ruins".

É que eu sempre gostei de adiar as coisas, boas e ruins. Tanto a dor quanto a felicidade me são muito caras, e a procrastinação virou um hábito. É o preço a se pagar quando você nega demais quando a felicidade bate à sua porta: se é você quem a procura, dá com a cara nela, a porta, várias vezes. Eu já me acostumei aos arranhões e aos roxos, e quando adoeço de tanto tentar, nem me surpreendo. É leve três, pague dois, e no meu caso, leve dois, pague três.

O "eterno não dá", em mim, já são favas contadas, é o mínimo a se esperar. Eu tenho vivido, agora, pelo outro lado, pelo outro lado da ponte, pelo outro lado da vida, pela posssibilidade de um sim, ou pelo menos um talvez. Um meio do caminho, que valha um encontro. "Eterno" e "não dá", já me são tão díspares, tão contraditórios, que eu não acredito mais neles.

(Isso são palavras de alguém que já esteve muito neste assunto, já o sabe de cor, e se cansou um pouco desse vai- e-volta. E está voltando para algum lugar, que não sabe ainda qual é, mas se o encontrar, que seja bem- vindo.)

era (e é) como se eu estivesse a dois centímetros de distância gritando, tentando alcançá-lo, dizendo, "estou aqui, a vida é uma merda, mas você não tá sozinho" e não me via, eu sou a mulher invisível, eu não sou, eu sou a porra de um nada, porque não existe efeito colateral nenhum, eu não tenho nenhuma reação sobre você, boa ou ruim, EU SOU UM PLACEBO que não tem nem o efeito psicológico.


Carol Ferraresi

+ em euquemserá


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Este texto faz parte de um projeto que consiste em trocar um título com alguém e essa pessoa tem que escrever algo utilizando o meu título e vice-versa.

Aqui está o texto da Carol. O título foi escolhido por mim. Ele foi livremente retirado da música "Janta" do Marcelo Camelo. Livremente retirado porque a música diz: "Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá" e eu sempre entendi "o eterno não dá". Engraçado como essa confusão acabou gerando um texto muito interessante.

Ele foi escrito, se não me falha a memória, em meados de Agosto. Lembro que entreguei uma pequena lista com uns seis ou sete títulos para ela escolher e ela escolheu justamente este. Depois de ler fica claro o porquê.

Gostei muito do texto. Foi para mim um grata surpresa. No fim fica a dúvida: Quantos de nós não seriamos simples placebos?

Obrigado pelo texto Carol!


E esperem mais "troca-troca", no melhor sentido da expressão.

PS.: O texto com o título que a ela escolheu: nós. aos olhos dos outros