sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Esse texto começou da seguinte forma: Uma impaciência e uma angustia – sempre ela – que me fazem escrever assim. Um querer falar que não fala. Não só a respeito das minhas coisas, mas principalmente delas. É sempre bom levar surras da vida, quando está tudo desmoronando e você sabe que hoje é mais forte que ontem e amanhã será ainda mais. Mas daí vem o medo que tudo acabe inclusive aquela reserva de forças que havia reservado para o fim-de-semana. Junto com a força e a coragem você sabe que no fim, é só você contra você mesmo, que nada vai de ajudar. Ninguém vai te salvar. Aí sinto aquele gosto azedo da solidão. Não adianta, não creia em falsas ilusões você, eu, nós estamos todos sozinhos, cada um proclamando sua própria existência solitária. Sim você existe, não mais que eu ou que qualquer outro. Ninguém se importa. Sempre foi difícil de suportar. Não será mais fácil agora em diante. Uma visão pessimista. Da onde vou tirar forças? Quero ajuda. Mas não aceito a que me oferecem. Porque não confio, não quero confiar. Ninguém vai me salvar. No fim, é só você contra você mesmo.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Making of "Corte"

ATENÇÃO!!! LEIA O “MAKING OF” ANTES DO CONTO POR SUA CONTA E RISCO. VOCÊ FOI AVISADO!


"Um simples corte pode mudar muita coisa no seu dia."


Lendo-o agora tenho noção de como estava certo na minha dúvida se deveria publicá-lo como conto, sendo que trata-se obviamente de um raso fragmento. Adoro ‘adjetivar’ tudo que posso. Influencia tardia de Proust, acredito eu.

Senti a necessidade de escrever algo, mas não tinha uma história; então pensei que talvez a melhor forma seria partir de um título inusitado, mas esse não surgiu. Comecei a escrever assim mesmo, sem ter a mínima ideia do que surgiria. Sempre um exercício interessante.

Gosto desse tipo de escrito, o qual denomino, inseguro por certo, de ‘fragmento’. Não há início, meio, mas talvez um fim; não um fim completo, mas um fim circunstancial. Não sei o quanto ficou claro ou não o que está se passando. Gosto de não entregar a história pronta para quem lê. Obviamente tenho receio que não esteja claro o suficiente, o que, sem dúvida, será uma falha minha. Entretanto garanto que há uma história e alguns dos sentimentos mais intrínsecos ao ser humano nesse pequeno fragmento.


Muito obrigado e deixe seu comentário com críticas, principalmente negativas! ;)

Corte

Um simples corte pode mudar muita coisa no seu dia. Não só pelo sangue que escorre causando a terrível sujeira que sujeita um sujeito já sem muita higiene a ficar exposto a todo tipo de germes e bactérias que estão no ar contaminado que já lhe causa uma certa dificuldade em respirar. Um sujeito asmático.

Esse simples corte o torna mais vulnerável à medida que sente a inevitável tontura e vomita. Reação igualmente inevitável causada pelo corte. Um corte profundo e obliquo que transpassa a terceira camada da epiderme causando um sangramento abundante se estivermos buscando a perspectiva do ferido.

Por causa desse corte, ele – até poucas horas ‘ela’ – desiste de retirar o resto de maquiagem que ainda está em sua pele. O espelho lhe remete um perfeito panda em processo de deterioração. O removedor de maquiagem faz o corte arder. Procura rapidamente algo que possa estancar o sangue, porém acaba por falhar em sua busca.

Pensa que não pode desmaiar. O corte agora parece mais profundo. Sua asma se faz presente. O banheiro começa a girar e tudo escurece.

Está no chão agora, quase abraçando a privada. Seu corpo está mole com uma leve dormência nos membros inferiores. Seu gato ‘vira-lata’ esforça-se para transpassar o curativo com sua língua. A dormência o incomoda. Levanta-se, mas não sem cair em seguida. Consegue esticar o pescoço e olhar além da extensão do banheiro. Seu pequeno quarto estava mais vazio que de costume. Não enxergava sua televisão, e muito menos o seu amado liquidificador verde, presente de sua mãe. Avistou suas roupas jogadas no chão e ao observar mais atentamente, avistou minúsculas gotículas de sangue formando um rasto até onde se encontrava.

Arrastou-se até o telefone e ligou para a polícia. Desligou em seguida. Colocou lentamente o telefone de volta no gancho, jogou-se ao chão e soltou uma gargalhada estridente.

“Uma reação comedida”, pensou.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Eu quero um romance

Eu quero um romance pra mim. Algo que cresça, fecunde, que floresça. Que se reescreva a todo instante. Eu quero um romance.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

.escrita avulsa

Notadamente diferenciou aquele olhar. Não podia notar as vozes. Olhou-as através daquele sol amarelo, aquelas pessoas agora estranhas. Não as reconhecia. Nem eu a ela. Agora estava sozinha. Eu a amava.

Depois veio a escuridão e ela já não estava só. Eu morri por ela, sem ela saber. Sentia-se sozinha. Não estava. No fundo nunca gostou da solidão, porém naquele único momento precisava encontrar-se. Eu a ajudaria. Foi um momento único. Seu instante “abracadabra”. Toda magia estava nela. E eu estava com ela, eu a protegeria.

Ela gostava de desenhar. Desenhava girassóis em seu caminho. Seu lápis amarelo quase florescia, iluminando momentaneamente a escuridão mais profunda.

Folhas de papel almaço esvoaçando no ar. Eu a abraçava.

Sempre gostara do amarelo, no entanto tudo havia mudado. Vivenciava agora m novo elemento. O vermelho. Achava agora que o vermelho dizia mais, dizia mais sobre ela. Era forte e delicado ao mesmo tempo, queria ser laranja, rosa e marrom; queria ser sangue. E foi.

O sangue escorreu pelas minhas mãos opacas. Não podia tocá-la. Morreria por salvá-la, morreria para salvá-la, morreria novamente.

Notadamente diferenciei aquele olhar. Podia notar minha presença. Quase pude senti-la, mas não pude salva-la. Não iríamos nos encontrar, ela iria para outro lugar e eu, eu ficaria sem ela por toda a eternidade. A criatura mais triste de todas. Durante muito tempo não pude me perdoar. Não pude salva-la. Eu a amava e não pude salva-la.

Não poderia salva-la. Nunca poderia. Precisava antes salvar a mim.

Obrigado por me salvar.

Sinto a sua falta...


Essa é a minha história, a história da minha ascensão.

domingo, 31 de outubro de 2010

.fragmento ~ Organismo sistemático

Eu não sei ao certo em que momento estamos. Gostei do que me disse aquele dia, de todas elas. Eu nem sabia o que te dizer, como te agradecer. O fato de estar tudo acabado, ajudou. Sei que talvez as coisas estejam um tanto obscuras nesse momento, mas acredite, ficarão mais. Sinto algo que a muito tempo não sentia. Aqui trancafiado nesse quadrado infame, eu precisava correr, eu precisava sobreviver, fugir daqui. Houve um tempo em que tudo o que queria era um vida como esta, mas isso era quando não tinha tantos medos e responsabilidades.

Perdão. Se a distância não fosse tão grande, ninguém saberia ao certo onde, nem quando iria acabar. Tenho que me contentar com que posso, dentro de todas as minhas funcionalidades. Estou preocupado com ela. Sempre o mesmo pronome que eu não ouso proferir aqui, não importa o quanto a vontade me venha, das mais diversas forma. Não me olhe assim, seus pensamentos não chegam perto dos meus. Não tente me compreender. Meu organismo sistemático não pode ser desvendado com tanta facilidade.

Eu até voltaria atrás se estivesse errado. Seria até bom estar errado. Eu não quero mais viver assim, dentro das minhas possibilidades. Não seria quem eu gostaria. Não me vejo mais quando penso no que não passei, nas coisas que não aprendi, e me questiono que palavras vão me salvar. Nenhuma dessas, provavelmente. Não, não, eu não sei quem está comigo, nem quem não está. De qualquer forma eu não vejo ninguém comigo.

Estou morrendo. Devagar, lentamente, ao pouco, morrendo aos poucos. Será que não mereço algo mais digno do que isso. Morrer aos poucos, como um cão esquartejado lentamente. Que destino cruel a todos os meus semelhantes. Basta. Não há mais nada. Somente o tempo e o vento a atravessá-lo.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Das palavras que escolhi

Não sei mais o que fazer desta única vez, como quase sempre. Quase gosto disso. De pensar que tudo se resolverá sozinho. Nada do que pensei será. Frases curtas. Não quero escrevê-las, mas elas saem. A todo momento sei que estou perdendo. Não quero perdê-la(s). Quem será ela? Ah! Quantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Todas incipientes, frágeis e abundantes de algum desprezo, que eu ainda não sei ao certo qual é. E não volta; nunca mais voltará. E se voltassem? Poderiam voltar? Eu falo dos momentos, dos recortes, daqueles instantes únicos que só acontecem um de cada vez, em seu tempo, nunca simultaneamente. Estou falando dos momentos que não marcam o princípio e sim o fim. Esse fim é o que mais almejo. Estou falando dos olhares, do desejo. Falo daquela vontade que não passa com o tempo. Estou falando do querer fingido, do desejo de se aproximar, que se aproxima sem ser percebido. Pra quem mesmo eu estou dizendo tudo isso? Estou falando dos nossos impedimentos. Passados e futuros. Já no presente são indisponibilidades. Pra quem escrevo? Se escrevo, escovo, penteio, visto, cuido e arrumo uma vez mais. Só dessa vez.

São esses momentos único que nos fazem viver. Que me faz nos querer por perto um do outro, mesmo que ela não saiba das coisas que sinto, senti, sentirei e, cabe aqui dizer, sentiremos separados. Nem tudo o que eu quero pode ser. Se eu voltasse teria feito diferente? As mesmas palavras. Será instinto? O que quero dizer é que não basta a coragem de ser, preciso mais. Serão a mesma pessoa? Ela(s).

Hoje acredito que tudo tem um motivo pra ser. Porém não desacredito no acaso. Quero encontrá-la(s). De quem eu estou falando? Pareço confuso. Sou. Das palavras que escolhi; não paro de formatá-las, modificá-las, entrosá-las, tentando criar um caos organizado que só eu entenda. Uma espécie de código que apenas eu possa decifrar. As revelações que faço aqui são só minhas. Minhas até o momento que não forem mais simples palavras. Em que se transformarão?

Gosto de pensar que tudo se resolverá sozinho. Ah! Quem liga para o que sinto? Sinto dizer, mas nem eu ligo. Desses sentimentos que sufocam, dessas agonias já tão presentes, que se se ausentam, sentimos uma falta danada. Quem deveria? Quem deveria se importar? Haja o que houver, eu continuarei por aqui. Se a tristeza, essas melancolias disfarçadas de introspecção, misturam-se com as felicidades puras, simples e plenas, já não há muito o que fazer. Das palavras que escolhi. Nem todas bonitas, a maioria são redundâncias propositais que definem o que sentimos, pensamos, desejamos, que exprimimos através das palavras perdidas entre espaços em branco. Foco no instável. Quem não estaria assim?

Nada faz muito sentido quando estou sozinho. Ou só fazem algum sentido justamente quando estou sozinho. Esse desprezo das boas companhias; quase gosto de mim. A solidão me ensinou a solitude. E foi assim que comecei a gostá-la. Ela, ela, elas, elas, ela, elas, eu, o ódio, o amor também. É tudo junto? Adjetivos brincando de substantivos, mas não os são, não nessa forma patética. A indiferença sempre atrai; daí traí, contraí, me atraí. O calor também. Quem se revelará por último?

A vítima fui eu. Eu até tentei evitar, mas afinal, quem poderia evitá-la? Quem poderia? Só não poderia, como não queria. Gosto do fim das coisas bonitas que me atraem. Gosto de frases curtas. As mais curtas que não sabem bem quem sou. Que não definem. Ah! Eu gosto das redundâncias sem sentido algum. Tudo pra me distrair.