quinta-feira, 26 de março de 2009

Vestuto Alento


Vênia à ti.

Vivo a vida na ilusão de que você possa ser mais importante que eu.
Por mim, sei que não deveria.
Você é.
Mas de que vale ser?

Seria algo leviano tentar escrever algo assim?

O tentar pode cansar.
O erro insiste em acontecer.
O tempo, ou a falta de, nos torna impossíveis.
Um para o outro apenas. Não para o mundo.

No início era um infinito, cheio de possibilidades.
Hoje parece que vai começar de novo.
O que não é mal ou ruim apenas impreciso.

Esperar?
Morreria por esperar.
Mas esperaria mesmo assim.

Faria de novo.
Faria diferente, porém não esqueceria as lições não aprendidas ainda.

Espera!

Mais tarde ainda será cedo para conversarmos.

A saudade não vai embora.
Você não fica. Fica.

Fica! Presta atenção...

Moça, por favor, cuida bem de mim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Making of "O ser vil que serviu"

ATENÇÃO!!! LEIA O “MAKING OF” ANTES DO CONTO POR SUA CONTA E RISCO. VOCÊ FOI AVISADO!

Primeiro veio o título, para só depois surgir o conto.

Como a tempos não atualizava esse blog, forcei-me a sentar na frente do computador e escrever algo. Primeiro vamos ao título: ele surgiu da música/poesia "Amadurecência" do Teatro Mágico. Na ocasião pensei como seria um vilão sendo útil a alguém. Ficou bem diferente disso.

A maior inspiração para esse conto foi a obra "Dom Casmurro" de Machado de Assis, que foi reavivada na minha mente graças à série "Capitu". Logo soube que o meu "vilão" se chamaria Escobar. Bentinho, então, foi uma escolha natural, apesar de óbvia.

O narrador como personagem presente na ação, surgiu enquanto o conto era escrito. Pensei em uma grande e bombástica revelação: seria Capitu. Mas não segui em frente com a idéia. Seria "forçar a barra", conclui.

A falta de clareza do texto foi proposital. Queria algo misterioso, rápido e sucinto. Onde o leitor não tivesse clareza da ação. Tudo "atropelado", sem muita explicação.

O final surgiu totalmente improvisado. O conto em si não me agradou. Talvez porque não tenha conseguido criar algo realmente novo. Ele segue tanto linha, como extrutura bem típicas minha. Apesar de ter gostado do final, que me surpreendeu. Espero que possa ser entendido por eventuais leitores. É quase uma história sem fim. Um ciclo-vicioso.


Obrigado, enventual leitor.

O ser vil que serviu

Escobar caminha pelo salão gélido e escuro. Não há nada na sua frente, a não ser um antigo espelho fosco. Suas mãos suadas e trêmulas movem-se com a intensidade do vento. Em sua mente tudo está claro. Seu objetivo, um propósito maior e, sua arma.

O desejo quase o consome antes do movimento preciso. Controla. O fator-movimento acontece. Barulho! Formas geométricas imperfeitas caem ao chão. Reflexos: é Bentinho. Como era conhecido Bento Santiago. Ele sangra. Um sangue viscoso e vermelho. Nada diferente de outros que já vi. Em seus olhos, o desespero. A vida se esvaindo. A chama se apagando. Imagino tudo escurecendo.

Escobar corre em minha direção. Passa reto por mim, muda o trajeto. Tudo me faz crer que não me viu. Permanece vários instantes parado. Observando sua presa ferida mortalmente. Em seus olhos o rancor e a raiva, se transformaram em algo obscuro. Talvez ternura, talvez remorso, talvez culpa. Sem dúvida algo mais nobre do que sentira no momento anterior.

Aproxima. Ajoelha. Pega-o em seus braços.
Quase posso ouvir-lo. Quase. Me parece um pedido de perdão, mas posso ter me enganado. A respiração forte de Bentinho atrapalhava o caminho das palavras. Tudo me era confuso.

Bento sangrava toda roupa de seu algoz. Era tanto sangue. Tão vermelho. Tanto sangue. A sala estava impregnada daquele cheiro vermelho. Aquela cena, por algum motivo, lembrou-me morangos.

Foi um pensamento esdrúxulo, admito. Inusitado, quem sabe.

A violência cessara. A vítima balbuciou algumas poucas palavras ao ouvido de Escobar. Nada compreensível. Acho que era alemão.

D
esfaleceu. Sua respiração, de repente, silenciou. Tudo era o silêncio, que estava em tudo.

Aqui jás Bento Santiago. Morto em sua sala sem muita honra”. Daria um belo epitáfio, pensei.

Sua morte serviu a um propósito maior. Foi o que ouvi semanas depois do ocorrido.

Escobar não permaneceu vivo por muito tempo. Foi apenas o tempo de servir também ao tal propósito maior: "a salvação de nossas almas". Foi o que me disse, em meus braços, antes de morrer.

Um ato desnecessário, decerto. Eu o matei.

Agora é esperar...