quinta-feira, 17 de julho de 2008

Gestão do ser corrido ao pé

Sempre que encontrava algo melhor, ela o trocava.
Tinha a sensação de ápice. Algo fugido de dentro, do centro. Algo abominável. Procurava o pé. Procurava sempre pelo pé. Jamais sorria.

Tentava de todo modo se livrar da desagradável criatura. Em vão, sempre em vão. Era mais forte, mas alto e visivelmente superior.

Cortava-lhe lasquinhas do dedão esquerdo. Tentava feri-lo. E corria de medo dele. Morria de medo dele.

Tinha porém uma curiosidade, unida com uma coragem inusitada.

Forte e lerdo, ele acordava. Fazia dois movimentos bestiais e retornava ao seu sono íntimo e refrescante. Voltado para o sol. O segundo sol.

Ela precisava trocá-lo, e tocá-lo em outra extremidade do seu ser corrente. Prende-lo em seu arco flamejante. Cortá-lo novamente, quem sabe?

Foi-se em nova investida: Cuspir-lhe à cara. Falsos trejeitos a desconcertaram.

Gestão de seus movimentos.

Estava pra desistir diante de tudo aquilo que era a criatura. Pensou-se em ir. Pensou-se ali. Logo, pensou em ficar. Tentar tudo novamente. Acordar sem despertá-lo.

Foi-se uma, duas e logo a terceira batida: Dormia profundamente em seu recanto não mais silencioso.

Foi-se quatro, cinco e a sexta batida: Virou-se para o lado.

Foi-se sete, oito, nove e a décima batida: Trovoadas seguidas de vento!

Acordara o gigante! Seus pés bateram no chão com impressionante força e firmeza. Ela sucumbiu diante do pesado pó.

Distante corrida até o fim seguro.

Precipitou-se a desistir. Indo embora pelo torto caminho de pedra lascada e seca.

Água em teus olhos. Água salgada surgia, embaçando sua visão.


Ele se aproximava. Seu desespero, seu choro, sua pulsação antes pendentes, explodiram.

Aproximava-se. Suspense mórbido.

Foi então que a criatura sorriu. A ergueu com sua mão de pele tão dura.
Diante dela o gigante sorriu.

Não iria mais trocá-lo. Apenas tocá-lo. Para sentir.
Sentiu-o como havia sonhado em sentir seu predecessor inexistente.

Por fim sorriu.

Um comentário:

Unknown disse...

AAAAAAAAAAAAAH!

que foda!

lí em voz alta, o texto te chama pra ser lido em voz alta. o mesmo ainda te induz a ser lido com voz de contador de histórias.

parabéns