sábado, 8 de setembro de 2007

Fala ó Zé!

Zé Miranda era um feirante. Trabalhava segunda, quarta e nos finais de semana. Nos outros dias era zelado de um velho armazém.

Trabalhava duro o Zé.

Morava sozinho o Zé.

Não tinha parentes. Pois toda a sua família tinha fincado no Piauí, sua terra natal.

Seguia sempre a mesma rotina, o Zé.

Mas nas noite de sábado era diferente:

Zé ia à igreja!

Sim, enquanto todos se divertiam, o Zé ia rezar.

Gostava do silêncio. Gostava de ficar sozinho. Padre Gustavo abria a igreja só pra ele, e em troca, Zé limpava o santuário.

Mas o que pediria um homem que nem o Zé?

O que estaria faltando em sua vida?

Um milagre!

Zé queria falar.

Mas não queria falar com qualquer um. Isso ele já fazia.

Zé queria falar com Dona Glória.

Ah! Dona Glória. Exemplo de mulher! Roubou o coração do Zé.

Zé queria falar com o Deputado Romão.

Ah! Deputado Romão. Exemplo de deputado! Roubou o dinheiro do Zé.

Zé queria falar com o Dentista Heitor.

Ah! Dentista Heitor! Exemplo de dentista! Roubou o dente do Zé.

Zé, ajoelhado diante do altar, juntando toda a fé que acumulou por toda a sua vida, pediu.

Pediu.

Pediu mais uma vez. Pediu novamente.

Pediu a Deus que conseguisse falar.

E ouviu.

Ouviu. Ouviu de novo. Ouviu novamente. E ouviu mais uma vez:

- Fala ó Zé!

Correu, correu, correu e, por via das dúvidas, correu mais um pouco.

Chegou em casa, sentou-se, e ouviu outra vez:

- Fala ó Zé!

Correu, correu, correu e, por via das dúvidas, correu mais um pouco.

Estava ficando louco o Zé.

Mas afinal?

Seria Deus a tal voz?

Não sabia.

Seria o demônio a tal voz?

Não sabia e temia

Seria apenas a sua imaginação?

Previa.

Teria que falar?

Sim, teria que falar.

E falou.

Falou a Dona Glória.

Falou ao Deputado Romão.

Falou ao Dentista Heitor.

E enfim, falou para si mesmo:

- Fala ó Zé!


Fim

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