quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Se pouco já se vai

_Apesar do medo e da dificuldade toda que tinha em caminhar, não pude deixar de segui-lo. Não o enxergava direito, pois tudo era fumaça, barulho e gritos. Nada me era distinto, mas eu continuava a segui-lo. Era meu mestre.

Eu sabia que só podia ser ele. Ele me ensinara tudo. Foi então, que envolto nesses pensamentos, eu me agitei. E em um gesto quase que involuntário, minha boca se articulou de tal forma e disparou seu nome. No meio da confusão, o homem repentinamente se virou, pousando seu olhar sobre mim. Nesse momento não pude mais conter a emoção. Meu mestre olhara para mim! Mesmo que fosse um olhar cheio de mágoa e angústia, ele olhara para mim. Naquele momento único ele olhara só para mim. Eu, somente eu, prendia-lhe toda a atenção e, sem perceber já lhe pedia perdão.

Fora um ato inconsequente. Ninguém poderia culpar-me. Era uma criança. Nunca me ensinaram o certo e o errado, nunca me ensinam limites ou consequências. Tudo aquilo dependia de mim. Um fardo muito pesado.

Meu mestre, aquele homem que me olhava em meio ao caos, começou a caminhar em minha direção. Um medo extremado tomou-me conta.

O que diria? O que faria comigo? Esse medo me fez correr.

Não me atrevia a olhar para trás. Mesmo assim olhei. E vi meu mestre correndo qual um cão atras da sua caça. Seus olhos estavam mergulhados em lágrimas, vermelhos. Nunca vira aquele sentimento em seus olhos. Era o ódio que tinha se apossado do seu espírito. Decerto o ódio mais puro que jamais sentira. Não tive dúvida. Ele me mataria.

Corri o mais rápido que pude. Não foi o bastante. Ele logo me alcançou. Jogou-se sobre mim com tamanha força que ao chegar ao chão não era mais alguém. Minha vida se desfez naquele instante. Eu era um corpo morto. Um simples cadáver desfeito naquela cidade agitada.

Sua raiva era tanta, que não percebeu o sangue que jorrava da minha cabeça inclinada, não percebeu meu pescoço quebrado. Meu sangue abundante espalhava- se pela sarjeta, em direção ao bueiro mais próximo.

Meu mestre continuava a chorar enquanto libertava toda sua fúria em meu corpo já sem vida. A multidão não deu importância. Pisavam em meu sangue, sem ao menos percebe-lo. Todos apressados para apagar o incêndio que eu causara. Todos alimentando a vã esperança que Sophia ainda estaria viva. O furioso homem sabia que não estava.

Um comentário:

Marô Zamaro disse...

Gostei da narração.
Feita de peças que se encaixam ao final... Aliás, sempre tem uma peça perdida, ainda mais depois de se correr tanto e com tanto ódio.

Mas de fato a narração se faz importante, pois instiga o conhecimento do enredo.

Parabéns, escritorzinho de bosta =)